Os ultraprocessados estão cada vez mais presentes na alimentação das crianças. Segundo o Estudo Nacional de Alimentação e Nutrição Infantil (ENANI), cerca de 24% da dieta de crianças entre 6 meses e 5 anos é composta por produtos industrializados, como biscoitos doces, salgadinhos e refrigerantes. Apesar das recomendações do Ministério da Saúde, que orienta uma alimentação livre desse tipo de produto antes dos dois anos, esses alimentos ainda representam 20,5% da dieta das crianças pequenas.
Muitas vezes, embalagens chamativas e a promessa de vitaminas e minerais adicionados fazem com que esses produtos pareçam mais saudáveis do que realmente são. No entanto, especialistas reforçam que quanto mais natural for a alimentação, melhor para o desenvolvimento infantil.
O impacto dos ultraprocessados no paladar infantil
A nutricionista Amanda Martins, especializada em alimentação materno-infantil, alerta que os ultraprocessados podem comprometer a formação do paladar das crianças. Produtos ricos em açúcar, sódio e gordura contêm realçadores de sabor que fazem com que os pequenos percam a percepção dos sabores naturais.
📌 Exemplo prático: Se a criança se acostuma com um leite sabor morango artificial, pode ter dificuldade em apreciar o sabor real da fruta.
Esse efeito pode tornar ainda mais difícil a introdução de alimentos in natura na rotina alimentar, tornando a seletividade alimentar um desafio maior para os pais.
O papel da família na reeducação alimentar
A introdução de hábitos saudáveis começa dentro de casa e envolve toda a família. Audrey Abarno, mãe de Maité, de 3 anos, percebeu que a filha começou a rejeitar alimentos como feijão e só aceitava arroz e macarrão. Com o acompanhamento da nutricionista, a família adotou o “Método da Escadinha”, que incentiva a criança a conhecer o alimento antes de comê-lo, passando por etapas como tocar, cheirar e experimentar aos poucos.
O resultado? Mudança de hábitos para todos! A família reduziu o consumo de ultraprocessados, incluiu mais frutas e vegetais no cardápio e até os avós passaram a evitar oferecer bolachas recheadas.
Como reduzir os ultraprocessados na dieta infantil
Modificar a alimentação dos pequenos pode ser um desafio, mas a transição gradual torna o processo mais fácil. Confira algumas dicas práticas:
✅ Diminua a compra de ultraprocessados para reduzir a oferta desses alimentos em casa.
✅ Aumente o consumo de produtos in natura, como frutas, legumes e proteínas frescas.
✅ Converse com a criança sobre a importância de uma alimentação equilibrada.
✅ Não proíba de uma vez, faça substituições graduais para evitar resistência.
Substituições inteligentes para uma alimentação mais saudável
Abaixo, algumas trocas sugeridas pela nutricionista Amanda Martins, que ajudam a diminuir o consumo de ultraprocessados sem abrir mão do sabor:
Ultraprocessado | Alternativa mais saudável |
---|---|
Néctar de fruta | Suco natural, de preferência sem coar e sem açúcar. |
Refrigerante | Suco natural diluído em água com gás. |
Bebidas lácteas saborizadas | Iogurte natural batido com frutas doces (banana, manga, uva-passa). |
Achocolatados industrializados | Cacau em pó com leite e um pouco de açúcar mascavo. |
Bolachas recheadas | Cookies caseiros de amendoim ou biscoitos de frutas. |
Salgadinhos de pacote | Petiscos caseiros, como bolinhos assados de frango e pão de queijo. |
Macarrão instantâneo | Macarrão capellini ou aletria (cabelinho de anjo) com molho caseiro. |
Nuggets congelados | Frango processado em casa e empanado com farinha de milho, assado na air fryer. |
Batata frita industrializada | Batata feita em casa com azeite de oliva no forno ou air fryer. |
Publicidade e a influência na alimentação infantil
Outro fator preocupante é o marketing agressivo dos ultraprocessados voltados para crianças. O Guia Alimentar para a População Brasileira aponta que mais de dois terços dos comerciais de alimentos na TV são de produtos como fast food, salgadinhos, biscoitos e refrigerantes.
Os pais devem estar atentos: mesmo quando esses produtos trazem rótulos como “rico em ferro” ou “fortificado com vitaminas”, nem sempre isso significa que são opções saudáveis.
Pequenas mudanças fazem grande diferença
A substituição dos ultraprocessados por alimentos naturais e caseiros pode parecer um desafio no início, mas traz benefícios duradouros para a saúde infantil. Com paciência e persistência, é possível transformar os hábitos alimentares da família, promovendo uma alimentação mais nutritiva e equilibrada para as crianças.